sexta-feira, 5 de junho de 2009

Marcas...


Como fazia habitualmente, ela se ajeitava em frente ao espelho.

Hoje com um ar diferente... observava as marcas, cravadas em seu rosto, e buscava em sua mente, num esforço desleal, identificar as suas causas.

Dizem por aí que as pessoas fazem conosco, aquilo que nós permitimos. Havia ela permitido tamanha crueldade? As marcas em seu rosto declaravam a dor em seu coração. O tempo passou, o amor também. A espera não se cumpriu, o idealizado não chegou, o coração apenas batia; batia como quem parte.

Os cabelos brancos, talvez adormecidos, cobriam a mente que fervilhava e sonhava com mais emoção, com mais vida; vida que não brotou.

As horas corriam, os amores também...

Os desejos ardiam e o peito também...

A desesperança fluía e levava a paz de seus dias.

Sonhar? Já não mais podia nem queria.

O tempo passava e a solidão, fiel escudeira, a castigava.

Zombava de suas marcas, zombava do seu sorriso, meio sem graça, quase amarelo...

Tremia só de pensar que a juventude ficara para traz e junto com ela os amores impossíveis e não correspondidos, as datas não comemoradas, as cartas não lidas, as palavras não ditas, os "ais" não suspirados, os beijos não roubados e as horas não vividas.

Arrastava-se consigo e suas marcas as lembranças do tempo que jamais voltaria, o sabor que jamais sentiria e a vida que nunca seria vivida.

Suspirando e fitando seus olhos, ela pode perceber na escuridão, a dor causada pela covardia e pelo medo; a decepção com a perfeição e a desilusão aliada a desesperança.

Se é verdade que fazem conosco aquilo que permitimos, ela permitiu a destruição do seu ideal e o arrastar-se pela vida.

2 comentários:

  1. Que triste, Alice.

    Me lembrou uma poesia do Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), chamada Aniversário.

    Procure.

    bjo

    rafa

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  2. Valeu por ser meu seguidor, leia os outros textos qd puder,nada mt poético, mas bem terapêutico, rsrsrs....
    Li o poema q vc sugeriu, lembra msm, qd escrevi estava me sentindo assim, meio q sendo arrastada pela vida, mas ainda bem q passou, altos e baixos das minhas reflexões e dos meus dramss.
    Bjo,
    Alice

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